Etiquetas Image Map

terça-feira, 7 de junho de 2016

Entretenimento televisivo de qualidade: Four Weddings

Chegaram as férias e com ela aqueles dias passados de pijama, fazendo revezamento entre o computador e o sofá. E foi num dos momentos sofá que resolvi ligar a televisão e assistir a um dos maravilhosos programas disponíveis para nosso entretenimento diário, o Four Weddings. 
Quatro casamentos, quatro noivas, uma lua de mel. Ainda não decidi se é uma hora rindo ou uma hora com as sombrancelhas arqueadas, pensando como assim? Voto em uma mistura das duas reações. 
O programa inicia com as noivas se conhecendo e contando um pouco do que planejaram para o grande dia. Todos os casamentos tem temas que vão desde romântico rústico, passando por natal em julho e chegando ao clichê Hollywood, dados como quantidade de convidados e valor gasto são mostrados antes do início de cada festa. 


As noivas vão como convidadas nos casamentos umas das outras e observam tudo com olhos críticos já que no final da festa deverão dar seu parecer. As notas são dadas para a experiência, vestido, cerimônia e comida, a noiva que obter a nota mais alta ganhará uma lua de mel em alguma paradisíaca praia caribenha. 
Sabendo disso você já consegue imaginar que as noivas se esforçam muito para organizar uma festa sensacional, não é? Mas o esforço é tanto que durante a festa tem apresentação de samba, maracatu, noivos dentro de ovos Fabergé - esse casamento tinha como tema Rússia... E as noivas convidadas não perdoam, julgam todos os detalhes! Como não podem apenas dizer a nota, elaboram justificativas que deixariam qualquer professor de língua materna emocionado, como a decoracão estava impecável, mas não gostei do fato dela ter trocado três vezes de vestido durante a festa, darei 6 ou adoro cerimônias ao ar livre, mas estava tão quente que quase não pude me concentrar no que era falado, por isso minha nota é 7. Quando o assunto é comida as justificativas são melhores eu pedi uma carne ao ponto e ela veio muito vermelha, não pude comer, nota 5 e amei a escolha do menu, a comida estava maravilhosa, darei 6


Infelizmente o programa agora é uma sequência de reprises, mas vale a pena perder algumas horas assistindo-o e se perguntando pra quê mesmo serve uma festa de casamento?



quarta-feira, 11 de maio de 2016

Mochila nas costas rumo a República de Užupis (Lituânia)

Sem pesquisar no Google me diga, qual é a capital da Lituânia? Exatamente onde no mapa ela está? Quais são seus pontos turísticos? Se eu fosse o Silvio Santos teria pedido que soltassem a música do tempo, essas perguntas estariam valendo 1 milhão de reais em barras de ouro - que valem mais que dinheiro! 
A Lituânia é um pequeno país que dificilmente está na lista dos turistas e faz fronteira com a Polônia, Letônia, Bielo Rússia e Suécia, fez parte da União Soviética até 1990 - a Lituânia foi o primeiro país a proclamar independência da URSS! É um país desenvolvido, que faz parte da União Europeia e que possui uma população que luta por criar uma identidade autêntica que os tire definitivamente da sombra do que um dia foi o Império Russo. 
Confesso que foi por um acaso que a incluí na minha lista, olhei para o mapa, apontei para Vilnius, capital, e perguntei por quê não paramos aqui também? E foi assim que Vilnius me teve por dois dias e eu a tenho para sempre na memória. 



Chegamos na cidade sem saber o que veríamos, nos hospedamos no hostel B&B&B&B&B e logo fomos perguntando onde comer, o que comer, o que fazer... E as respostas foram vocês podem comer no nosso restaurante, tomar uma cerveja no nosso bar, aproveitar para dançar na nossa balada. Se vocês gostam de arte, hoje e amanhã está acontecendo a semana de arte de Vilnius e nosso hostel está recebendo exposição de fotografia e quadros, além de apresentação de teatro e dança. Foi, de longe, o hostel mais divertido que ficamos! Depois do almoço - o cardápio estava em lituâno e eu e todo meu conhecimento linguístico escolhemos o prato que mais gostei do nome, jurava que era salmão com batata e no final era sanduíche de salmão, mas quase!, fomos caminhar pela cidade e fazer um Free Walking Tour.

Foto: arquivo pessoal

O tour de aproximadamente três horas nos rendeu maravilhosas risadas e muitos novos conhecimentos. Não conseguirei resumir três horas de caminhada em poucas linhas, então contarei apenas sobre uma parte da cidade, um minúsculo país que existe dentro de um pequeno país: a República de Užupis. 
Uz, como também é conhecida. fica no centro histórico da cidade e para entrar lá é preciso atravessar uma ponte (dessas cheias de cadeados do amor, mas caso você vá pense duas vezes antes de prender um cadeado... Reza a lenda que o amor dura enquanto o cadeado estiver preso, porém para que a ponte não caia com o peso, a prefeitura corta, uma vez ao ano, um grande número de cadeados. Por isso, o número de divórcios no país é grande), sorrir, diminuir a velocidade para no máximo 20km/h, apreciar a arte e não entrar no rio com o carro. 

Foto: arquivo pessoal

Esse bairro país já foi gueto judeu, mas seus habitantes desapareceram durante o holocausto, deixando o local abandonado. O cemitério, que está nessa região, foi destruído durante a invasão soviética, assim como algumas casas e durante o período da URSS o que sobrou das casas passou a servir de lar para drogados, bêbados, prostitutas... 
Com o tempo muitos artistas passaram a frequentar esse local para conversar e criar. Passou a ser um refúgio boêmico. Até que em 1997, no dia primeiro de abril, decidiram fundar ali um país ao qual deram o nome de do outro lado do rio. Como qualquer país, Uz possui bandeira, leis, presidente e exército. Graças ao esforço desses artistas, atualmente Užupis é o bairro mais prestigiado e caro da cidade! É um verdadeiro museu a céu aberto, seus muros contam a história do país, e suas ruas mostram o talento de seus habitantes.

Foto: arquivo pessoal

O muro acima é um apanhado de artistas que já visitaram Vilnius ou já falaram sobre a cidade ou o país em suas obras. Foi criado com o intuíto de mostrar à população que eles são queridos pelo mundo e são importantes! Mais que isso, que são lembrados. 

Escultura e a bandeira da paz

Uz é o sonho utópico de muitos, um país onde a arte é o mais importante, além do bom humor, da cerveja com os amigos e da paz! 



1. Toda pessoa tem o direito de viver à beira do Rio Vilnele e o Rio Vilnele tem o direito de fluir perto de todos
2. Todos tem o direito à água quente, aquecimento no inverno e a um telhado 3. Todos tem o direito de morrer, mas isso não é uma obrigação.4. Todos tem o direito de cometer erros.5. Todos tem o direito de ser único.6. Todos tem o direito de amar.7. Todos tem o direito de não ser amado, mas não necessariamente.8. Todaos tem o direito de ser indistinto e desconhecido.9. Todos tem direito a lentidão.10. Todos tem o direito de amar e cuidar de um gato.11. Todos tem o direito de cuidar do cão até que um deles morra.12. Um cão tem o direito de ser um cão.13. Um gato não é obrigado a amar seu dono, mas deve ajudar em tempo de necessidade.14. Às vezes, todo mundo tem o direito de não estar ciente das suas funções.15. Todos tem o direito de estar em dúvida, mas isso não é uma obrigação.16. Todos tem o direito de ser feliz.17. Todos tem o direito de ser infeliz.18. Todos tem o direito de ficar em silêncio.19. Todos tem direito a ter fé.20. Ninguém tem o direito a violência.21. Todosa tem o direito de apreciar a sua insignificância.22. Ninguém tem o direito de ter um mesmo projeto pela eternidade.23. Todos tem o direito de entender.24. Todos tem o direito de entender nada.25. Todos tem o direito de ser de qualquer nacionalidade.26. Todos tem o direito de celebrar ou não seu aniversário.27. Todos devem se lembrar do próprio nome.28. Todos podem compartilhar o que possui.29. Ninguém pode compartilhar o que não possui.30. Todos tem o direito de ter irmãos, irmãs e pais.31. Todo mundo pode ser independente.32. Cada um é responsável pela sua liberdade.33. Todos tem direito a chorar.34. Todaos tem o direito de ser mal interpretado.35. Ninguém tem o direito de fazer outra pessoa se sentir culpada.36. Todos tem o direito de ser individual.37. Todos tem direito a ter direitos.38. Todos tem o direito de não ter medo.39. Não derrote.40. Não revide.41. Não se renda.


Apenas amei essa constituição. Amei essa mini república. Já se animou a inserir Vilnius na tua lista?

terça-feira, 26 de abril de 2016

A carta

É assim, não consigo organizar essa bagunça que há dentro de mim. Já li vários textos para ver se acalmo meu coração ou passo a aceitar esse misto de sentimentos como algo normal. Sabe, muitas vezes eu me pergunto se mais alguém também se sente assim.
Eu já te falei que aquele teu sonho é lindo? Nós dois, nossa casa no campo, nossa filha, a rede de balanço... Posso, inclusive, imaginar que incrível seria. Mas não será, e você sabe disso, não sabe?
A vida é feita de escolhas e a minha foi viver sem você. Sabe aquilo de a pessoa certa na hora errada? É mais ou menos assim que vejo você. Mais ou menos porque já analisei nossas trajetórias e não há nenhum momento que pude encontrar como sendo o certo. 
Já me falaram para te esquecer, te excluir do Facebook e deletar teu número de celular, ignorar tuas mensagens ou pedir que não me procure mais. Mas quem segue conselho de amigo?
Como Vronsky que não desiste da Karenina, você não desiste de mim... e isso me alegra. Não deveria, eu sei, mas saber que ainda sou especial para você me conforta. Mas assim como está claro que não existe um nós, esse quase que me persegue, precisa acabar ou nos jogará nos trilhos do trem, exatamente como fez com Karenina. Você me ajuda a organizar a bagunça que fez ou vai insistir em segurar minha mão enquanto caminhamos em direção ao trem?


quarta-feira, 20 de abril de 2016

Voluntariado na Finlândia: recebendo refugiados

Moro em um país de primeiro mundo. Todas as pessoas têm onde morar e o que comer, as crianças vão para a escola e os pais, para o trabalho. Sentia falta do trabalho voluntário, de estar no hospital ou organizando entregas de doações. Mas o que eu poderia fazer aqui? Olhando o mundo com os óculos da Pollyana descubro que ninguém precisa de voluntários na Finlândia.
E é exatamente nesse momento que um grupo enorme de pessoas viram notícia: elas arriscam suas vidas para tentar chegar na Europa. Algumas noites de muito ponderar decido que quero ir, já, para a Grécia. Eu não apenas queria, eu precisava. Eu precisava sentir novamente que minha vida fazia sentido, que eu estava aqui não apenas para discutir política e criar inimizades com os mais acalorados, mas para arrancar sorrisos. E foi assim que eu passei a fazer parte do time de voluntários da Cruz Vermelha.

Infelizmente para fazer voluntariado fora do país é preciso ter realizado alguns cursos, e eu não pude ir. Mas ao por os pés pela primeira vez na sala de reuniões da SPR (Suomen Punainen Risti - Cruz Vermelha da Finlândia), vi um grande número de janelas se abrindo. O país precisa sim de voluntários! Precisa de pessoas doando sangue - eu não sou doadora, tenho pânico de agulha - pessoas visitando asilos, visitando pessoas que moram sozinhas, sabia que o número de depressivos aqui é bem alto? E agora, precisa de pessoas que queiram receber e ajudar na adaptação dos refugiados. E é esse programa que roubou meu coração.
Minha cidade disse que receberia cinco famílias e todas com algo em comum: famílias compostas por mães solteiras e seus filhos. Essas mães são afegãs e fugiram para o Irã, viveram por muito tempo (meses? anos?) em acampamentos para refugiados. Foram escolhidas para recomeçar a vida aqui porque são as mais vulneráveis. Desde fevereiro tenho reuniões e palestras, o que estamos fazendo é algo completamente novo aqui e estamos todos muito ansiosos e apreensivos. Uma das palestras foi sobre a cultura afegã, sobre a guerra, sobre o Talibã. Eu que tenho o coração de papel, precisei me controlar para não deixar as lágrimas escorrerem só de imaginar o que minha família teria vivido.


Sim, minha família! São tantos meses de preparação que já os vejo como parte de minha vida. Nós, os voluntários, nos dividimos em cinco grupos. Cada grupo é responsável por uma família, a minha é a mãe e três filhas. Elas chegam dia 2 de maio! Enquanto isso estamos arrumando a casa onde irão viver (a prefeitura disponibilizou cinco casas)! Procurando doações de camas, sofás, mesas e cadeiras, toalhas, roupas de cama, pratos, copos, tapetes... A casa logo estará pronta para recebê-las e eu mal posso esperar para ver a carinha delas ao descobrirem que agora tem um canto para chamar de lar!
Eu quero aprender a falar algumas palavras em persa. Quero dizer bem vindas, quero me apresentar, quero que se sintam acolhidas! Minha amiga afegã irá me ensinar, mas é tão complicado lembrar de todos esse sons que tenho medo de querer falar um coisa e acabar falando outra... 
Ah, uma tarde por semana eu vou ajudar as crianças com o finlandês! Vou passar a tarde com elas brincando, lendo histórias e aprendendo! Vai ser ótimo para o meu aprendizado e, espero, vamos nos divertir muito juntos! 
Estou tão feliz que queria dividir com você! Conforme o projeto for acontecendo eu venho e conto mais!

terça-feira, 19 de abril de 2016

Dear Jack, seu líquido acabou com minha vida

Qual sua opinião com relação as drogas? Falo, sem medo de estar errada, que você é contra! Acertei? Mas e o álcool, você aceita? 
Beber é sinônimo de diversão. Uma festa sempre fica mais divertida quando o corpo passa a agir sob efeito da cerveja. Um problema sempre parece menor depois de uma taça de vinho. Depois de um shot de cachaça a dor diminui. Falta de coragem é resolvida com um pouco de tequila...
O galã da novela das nove bebe whisky com gelo sempre que chega em casa, no cinema um bom jantar romântico está sempre acompanhado de uma garrafa de vinho, o álcool está sempre presente nos bons momentos da vida dos personagens e auxiliando-os a superar os maus. O que eles esquecem de nos contar é o que acontece quando a bebida passa a ser indispensável em nossa vida. 
E é nesse momento que o álcool passa de "herói" a vilão podendo causar doenças cardiovasculares, de fígado e até câncer, além de distúrbios comportamentais. Anualmente 3,3 milhões de pessoas morrem em todo o mundo em decorrência do abuso do álcool e em 2014, 46 mil pessoas, no Brasil, foram afastadas de seus trabalhos por problemas com a bebida. 
Além de afetar quem bebe, o álcool afeta todos que estão a sua volta. Com o objetivo de conscientizar a população sobre o mal que o consumo excessivo de álcool causa àqueles que convivem com o viciado, duas ONGS criaram dois comerciais impactantes. 
O primeiro é de 2012, criado pela ONG finlandesa Infância Frágil que tem como objetivo discutir os impactos que pais álcoolatras tem sobre a vida de seus filhos. No vídeo vemos como as crianças enxergam seus pais: verdadeiros monstros.


O segundo, de 2016, foi produzido pelo movimento Bandeiras Brancas, que realiza ações em prol da paz, e conta a história real de uma menina chamada Laura que decide escrever uma carta à Jack Daniel após perceber a mudança comportamental de seu pai causada por seu novo amigo. A ideia é alertar para os perigos dessa inofensiva droga e incentivar que mais pessoas procurem ajuda.


terça-feira, 12 de abril de 2016

Meus bons vizinhos

O celular vibrou, nova mensagem. Não era nenhuma fofoca nova, nenhuma declaração de amor, nenhum atestado de saudades... era uma perguntinha que me arrancou uma risada, como são os vizinhos finlandeses? 
Fiquei pensativa, não queria uma resposta evasiva bacanas, normais, simpáticos. Queria uma dissertação sobre o comportamentos dos vizinhos no sul da Finlândia, em especial os da cidade de Kerava. Já me via dando entrevistas na rádio e convidando os conhecidos para o lançamento do livro. Poderia. inclusive, traçar um paralelo com os vizinhos curitibanos. Humilde, já sorria com o sucesso que me aguardava. 
Limpei os óculos, peguei minha caderneta, preparei um chá adoçado com mel e iniciei a minha resposta. Lembrei dos meus vizinhos: a vizinha de baixo que tem um cachorro branco e que eu não sei o nome. Os vizinhos russos do lado direito, dois meninos que sempre passeiam com o cachorro, um bulldog francês preto, e que eu também não sei o nome mas sei a nacionalidade por causa do "bem vindos" da porta. O vizinho do lado esquerdo que já veio aqui em casa avisar, com muita simpatia, que ou a festa acabava naquele instante ou ele chamaria a polícia. O vizinho do andar de cima que toca guitarra e canta, mas que não sei que aparência tem. A vizinha que tem dois filhos pequenos e que me agradeceu quando segurei a porta para que ela passasse com o carrinho do bebê. E o vizinho que se assustou quando abriu a porta do elevador no exato momento em que eu subia as escadas correndo no escuro.
Termino o chá, fecho o caderno. Um parágrafo que poderia se transformar em dois caso eu explicasse onde está Kerava e quantos habitantes tem. Desisto do meu bestseller, abro a mensagem e respondo são simpáticos, te dizem oi quando cruzam com você no corredor mas não te perguntam sobre o tempo. 


quinta-feira, 24 de março de 2016

Con te partirò su navi per mari 2

E hoje, vinte e quatro de março de dois mil e dezesseis, faz um ano que embarquei naquele imenso e lindo navio rumo ao desconhecido. E ainda hoje, escutar a música Con te Partiro do Andrea Bocelli me arrepia e me enche de lembranças e sensações indescritíveis. Sempre que navio partia de um porto, a buzina tocava algumas vezes e logo em seguida essa música começava a tocar por todo o navio. Era o aviso de que o navio estava em movimento! Os tripulantes corriam para o deck para assistir o navio se afastando e a terra ficando cada vez mais longe.

Foto: Arquivo pessoal / Fortaleza
Fortaleza foi a última parada em solo brasileiro, o deck estava concorrido, todos queriam acenar para o Brasil que ficava para trás. Andrea cantava a plenos pulmões con te partirò su navi per mari che io lo so, no non esistono più, con me e eu chorava. Ali, naquele momento, eu percebi o que estava fazendo: estava deixando para trás não apenas o solo brasileiro, mas tudo o que me era conhecido. Um mar me separaria da minha família, dos meus amigos, do meu trabalho, da minha comida, da minha música, dos meus bares, da minha praia, do meu sol...e daquilo que eu sempre chamei de minha vida
Dramática como sou, não poderia ter escolhido maneira melhor de imigrar. Apesar dos medos que me invadiram ali, naquele momento, eu sabia que no final tudo daria certo! Meus avôs também viram a Espanha ficar pequenininha enquanto o navio partia, eles também deixaram o conhecido para trás e venceram. O sangue é forte, e como diz minha mãe a fruta não cai longe do pé. 
O que viria depois da longa viagem - foram vinte dias de navio e quinze atravessando a Europa em um mochilão, não havia lido em manual algum. A decisão de vir para a Finlândia foi racional, Mikko queria trabalhar na sua área. Como um casal, sentamos e conversamos quais as opções que tínhamos, decidi que aproveitaria para estudar. E era o plano. Mas a vida quis bagunçar tudo. Eu não passei na segunda e última fase do mestrado, inglês e eu nunca fomos grandes amigos e o nervosismo da entrevista que foi feita via Skype em um café em Alicante, Espanha, deixou isso claro para os professores da universidade. 
Lembro de estar em Varsóvia junto das pessoas que nos receberam em sua casa, rumo a uma noite de diversão, quando li o email que dizia desculpe, você não foi selecionada. Vi o mundo abrir baixo meus pés, e a única coisa que minha cabeça era capaz de pensar era e agora, o que eu vou fazer na Finlândia? Perdi a vontade de conversar e rir, só queria correr e pegar o primeiro avião rumo ao colo da minha mãe. Mas precisei ser forte, engoli o choro e abri um sorriso. Iria aproveitar a noite, a companhia e a viagem, depois me preocuparia com o resto da minha vida.

Nós e os poloneses
E foi assim que a vida me alertou que eu precisaria ser forte! E precisaria aprender a viver sozinha, cortar o cordão umbilical, sabe? Acho que a vida queria me mostrar até onde eu sou capaz de chegar e por isso puxou meu tapete, me fez refazer planos. E eu estou chegando, vida! Meu inglês meia boca evoluiu tanto a ponto de eu assistir filmes e seriados sem legenda, de conversar horas com amigos de diversas partes do mundo, de ler livros e matérias em inglês. Comecei a aprender uma quarta língua, o finlandês. Descobri que o que eu quero estudar no mestrado não é formação docente, é o bilinguismo. Voltei para a vida voluntária e estou muito ansiosa para receber a minha família de refugiados, cuja casa eu estou arrumando com muito carinho e língua estou me esforçando para aprender alguma palavrinhas. 
Imigrar é dolorido, se adaptar em um novo país e em uma nova cultura é difícil, fazer amigos é complicado, aprender uma nova língua é demorado, chorar é comum, mas que graça teria se tudo fosse fácil?

terça-feira, 15 de março de 2016

A incrível história da babá manifestante

Conviver em sociedade está se tornando algo complicado, como já disse minha querida Popozuda é tiro, porrada e bomba de todos os lados. A cada dois passos um grito Pêtralha! Zé Tucano! Coxinha! Pão com mortadela! Esquerda caviar! Elite! E eu, que não gosto de coxinha nem de mortadela, e caviar só ouço falar, fico aqui com o guarda chuva aberto para me proteger das chuvas de saliva que podem me acertar. 
A revista está aberta e, invés de um novo tutorial de maquiagem, estou olhando para a foto de um casal sendo seguido por uma moça de branco empurrando um carrinho de bebê. São gêmeos. Como no livro do Harry Potter, frases começam a surgir frente aos meus olhos e eu fico confusa. A primeira reação é revolta por quê precisam de alguém para cuidar de seus filhos no domingo, quando ambos estão em casa? Por quê a babá está de uniforme? Por quê levaram a babá e as crianças para a manifestação? 



Decido fechar a revista e ir caminhar, sentir um vento no rosto, ouvir o canto dos pássaros, fugir dessa enxurrada de frases e insultos que insistem em surgir, cada vez com mais frequência. Passo por um parque e vejo que há várias crianças brincando, próximo vejo algumas mães e alguns pais, mas nenhuma babá. Entro no mercado, reparo nas crianças contentes ajudando seus pais a realizarem as compras do mês, novamente, nenhuma babá. Intrigada, resolvo telefonar para todos que conheço que são pais e mães e questiono: vocês tem babá? 
Uma pequena viagem ao meu passado me mostra como ter alguém limpando sua casa era normal, todos os amigos tinham e eu também. Mas babá era diferente, babás eram caras e por isso as mães - o papel de cuidar dos filhos sempre cai sobre as mães, abriam mão de eventos e hobbys para estar perto de suas crias. E, além disso, a sociedade sempre nos ensinou que foi bom para fazer? Então agora cria! Mas e se é a babá que cria, a babá que deveria ser chamada de mãe? 
Não me é mais normal ter alguém limpando meu banheiro, se eu sujei eu limpo. Mas sei que para muitos ao meu redor é necessidade básica, talvez seja apenas para contar para os amigos. Sim, pagar para limparem sua bagunça é status. Quem não tem dinheiro para pagar o ônibus vai ter para contratar diarista? 
Pensando no passado brasileiro chego no ano de 1888, apenas 128 anos atrás, quando a escravidão foi abolida. Até 1888 quem tinha dinheiro, tinha escravo. Quanto mais escravo, mais dinheiro. Quanto mais dinheiro, mais prestígio. Bem, em 1888 a lei Áurea foi assinada, mas como os senhores iriam sobreviver fazendo trabalhos que antes eram executados por escravos? Com certeza, isso seria se rebaixar. Pagar pequenos salários para que sigam trabalhando engraxando seus sapatos, cozinhando seu almoço, arrumando sua cama e cuidando de seus filhos foi a solução. É histórico, eu percebo, querer que alguém faça trabalhos domésticos por você. E todas essas heranças culturais são difíceis de mudar. 
O casal da foto não está inovando nem burlando leis, está seguindo a cultura. Eles incomodaram os que queriam pagar babás mas não tem dinheiro suficiente e os que estão lutando para quebrar essa cultura histórica. A culpa não é deles, como ter alguém limpando minha casa era normal para mim, pagar para que criem seus filhos é normal para eles. A culpa não é da babá, ela precisa de dinheiro e para isso trabalha até aos domingos. A culpa é da sociedade que evolui a passos lentos, que valoriza mais o ter que o ser e que aponta demais o dedo antes de ver se seu umbigo está limpo. 

Ps: A foto da revista com frases à la Harry Potter não está no post por respeito aos três protagonistas. 
Ps2: Mudar dói, olhar para fora da nossa caixa dói, assumir que aquilo que era normal para nós é errado dói, mas é preciso passar por essas dores para nos tornarmos cidadãos melhores.

quinta-feira, 10 de março de 2016

O preço da (falta de) pontualidade

No Brasil uma bomba atrás da outra. O efeito dominó vai fazendo com que todas as pecinhas caiam, o primeiro derruba o segundo, o segundo derruba o terceiro e assim vai... É a melhor representação daquela famosa frase eu caio, mas você vai junto. Aqui só ouço falar dos refugiados chegando e da União Européia mandando-os à Turquia. Temos também o vírus Zika e os bebês com microcefalia. Além, claro, de uma ou outra notícia sobre o Big Brother Brasil que ninguém assiste, mas todos sabem o que está acontecendo.

Eu juro que eu tento ler e acompanhar tudo, me posicionar e pesquisar mais sobre os assuntos que mais me chamam a atenção. As vezes até tento criar planos para melhorar o cenário atual, apenas para me sentir bem em saber que estou deixando - tentando deixar- algo em ordem. Mas a verdade é que eu não consigo nem organizar minha vida, quem dirá o mundo.

Acredito que não seja novidade nem surpresa para você, mas eu sou uma pessoa que está sempre atrasada. Não ajo por maldade, nem por relaxo, eu sou apenas devagar demais. Amo fazer tudo com calma para ter certeza de que o resultado será perfeito. Se acordo com pouco tempo, pulo o café da manhã. Estou sempre cuidando do relógio para chegar aos locais no horário estipulado. Pena que não foi o que aconteceu na minha útima viagem ao norte do país.
Viajava sozinha, e precisaria trocar de trem em uma estação que fica próxima a que eu geralmente vou. O primeiro trem sairia às três e vinte e o segundo, às três e quarenta e cinco. Já sabe o que aconteceu, não é? Exatamente! Eu confundi os horários. Não precisa ficar me dizendo que eu deveria ter olhado a passagem com mais atenção, agora é tarde. Eu saí de casa com tempo, mas estava tão feliz por estar indo viajar que fui andando até a estacão exatamente igual ao Bob andava de bicicleta em seu desenho animado: admirando tudo. E o que aconteceu? Cheguei a tempo de ver meu trem indo embora! E foi assim que eu percebi a confusão numérica que havia feito!



Corri enlouquecidamente até o outro lado da estação, sobe e desce escada, para entrar no trem que estava ali parado. Sentei, fiz a respiracão que aprendi na yoga para acalmar o coração e esperei. Esperei e o trem não saia. Respirei mais uma vez, levantei e voltei a correr. Subi e desci escada, atravessei a estação inteira novamente e entrei no primeiro táxi que encontrei. Eu estava tranquila, sabia que no final chegaria a Oulu, mas meu rosto estava mostrando desespero. Assim que falei que queria ir para a estação de Tikkurila o taxista me pergunta estamos com pressa? Sim, amigo, estamos com muita pressa, temos exatos quinze minutos para chegar lá!
O que se seguiu foi um taxista mais preocupado que eu, correndo para que eu não perdesse o trem. Uns cinco minutos antes de chegarmos ao meu destino ele já havia desligado o taxímetro e eu já havia pago a corrida. Assim que chegamos constatamos que o previsível havia acontecido, eu não pegaria aquele trem.

Nesses momentos muitos chorariam ou se amaldiçoariam. Falariam os piores palavrões que conhecem, desistiriam da viagem e voltariam para casa se sentindo o fracasso na Terra. Muitos, menos eu. Sou brasileira e não desisto nunca, mesmo fazendo tanta merda.
O próximo trem sairia em vinte minutos e como eu já estava na estação as chances de eu perdê-lo eram quase nulas. Fui comprar uma nova passagem no auto-atendimento e a máquina me respondia em finlandês, não estava conseguindo comprar e não entendia o motivo. Sorte que encontrei uma funcionária, e junto com ela tentamos comprar, sem sucesso, minha passagem. Segundos depois chegou um segundo funcionário e eu já estava me sentindo aqueles velhinhos no caixa automático do banco. Eu e mais dois funcionários em frente a uma máquina. Que cena!
A máquina e o tempo estavam contra mim, ninguém entendia porque não era possível comprar uma passagem. Acredito que o sistema estava me dizendo você já conseguiu perder dois trem em um único dia, desiste que não queremos você andando de trem. Então, fomos - eu e os dois funcionários, até a loja da empresa de trens. A cena que já era péssima ficou pior, a jovem acompanhada de dois funcionários caminhando pela estação. Espere que tem mais! O rapaz entrou comigo e tirou a senha, ficou ao meu lado até me chamarem e então, se juntou a moça e ali permaneceram, parados esperando eu contar as boas novas tenho uma passagem e meu trem sai em dez minutos!
Andamos, os três, a passos largos até minha plataforma. Enquanto eu entrava no trem eles sorriam, missão solidária do dia feita! Eles ajudaram uma perdida a pegar um trem! Eu sentei e comecei a rir, não disse que no final tudo dá certo? E você pode parar com esse julgamento que eu sei que você vai concordar comigo que a vida vivida com fortes emocões é muito mais divertida!

quarta-feira, 2 de março de 2016

Mochila nas costas rumo a Curitiba (Brasil)

Curitiba, cidade linda e amorosa, da terra de Guairacá. Jardim luz, cheio de rosa, capital do Paraná. Curitiba é a cidade da página engraçadinha no Facebook, do pão com vina e do leite quente, dos parques e da Gabi. Curitiba encanta a todos, e por mais que curitibano goste de reclamar, sente orgulho de dizer que é de lá!
Se você nunca foi a essa cidade, te dou uma dica preciosa, no momento em que for arrumar a mala não esqueça o guarda chuva e as galochas, mas coloque também um par de havainas e óculos de sol e, só por precaução, leve uma japona. Você nunca sabe como estará o tempo. 

Palácio Avenida, nós e a chuva.
Reserve, no mínimo, quatro dias, para conhecer a cidade e se prepare para caminhar! Não há nada melhor que andar pelo centro, começar ali na Praça Osório, descer toda a rua XV até chegar na Praça Santos Andrade! Você sabia que a primeira Universidade do Brasil está em Curitiba? É a UFPR, logo ali na Praça Santos Andrade, em frente ao Teatro Guaíra. 

Em frente ao prédio histórico da UFPR

A fachada do Teatro Guaíra foi feita pelo artista curitibano Poty Lazzarotto e em vários pontos da cidade é possível conhecer mais de sua obra. Um dos meus painéis favoritos está no Largo da Ordem, é entre a rua XV e a Praça Santos Andrade, então é só esticar a caminhada e você chega a mais um ponto maravilhoso da cidade. Nos domingos o Largo é transformado em uma grande feirinha de artesanato! Também, domingos  pela manhã, é possível ouvir a Orquestra Sinfônica do Paraná no Teatro Guaíra. 


Largo da Ordem e mural do Poty Lazzarotto


Curitiba é chamada de Capital Ecológica e isso se dá, também, a grande quantidade de parques espalhados por toda a cidade. Curitibano adora correr e passear com os amigos e familiares no domingo em algum parque. O mais popular é o Parque Barigui e meu preferido é o Jardim Botânico, no Ensino Médio fiz estágio em uma escola que fica em frente e sempre aproveitava os minutos de descanso para deitar à sombra de alguma árvore junto de uma amiga! Outro local ao ar livre que está sempre lotado, é o Museu Oscar Niemeyer. Na realidade, o parque que está aos fundos do museu, conhecido como parcão. O MON, como chamamos este museu, é uma verdadeira obra de arte arquitetônica planejada pelo Oscar Niemeyer (por isso o nome, né...), vale a pena a visita! 



Meu cunhado interagindo com as capivaras no Parque Barigui

Além de passear em parque, curitibano adora uma feirinha, tanto que todos os dias tem feirinha em algum ponto da cidade! Só de lembrar da feirinha me dá saudades de comer espetinho e pastel! E quando lembro de espetinho, lembro também de churrasco! E de risoto, pizza, frango com polenta, pinhão... A culinária do Paraná é deliciosa e sofreu influência dos diversos grupos étnicos que colonizaram a cidade (poloneses, espanhóis, ucranianos, japoneses...). Turista almoça sempre no Madalosso, mas é possível encontrar outros bons restaurantes, inclusive vegetarianos! Um passeio pelo Mercado Municipal, também é uma boa ideia para quem gosta de provar os sabores do local que está conhecendo. 
Sabe aquela história de que curitibano é fechado? Tudo mentira! Vá a algum bar em que as pessoas ficam na rua, como os da região da São Francisco, e verá como somos alegres e amigáveis! Se você gosta de dançar, é só escolher o ritmo e ir se dívertir. A região do Batel é a mais famosa, mas as casas noturnas pé de chinelo que estão espalhadas entre São Francisco e Centro são as minhas queridinhas (especialmente as voltadas ao público LGBTS). 

Mikko no MON
Não esqueça de andar de biarticulado, de comer pão com vina e gengibirra, provar mimosa, comprar lápis e borracha para guardar no penal e conhecer algum piá gente boa. Vá treinando o sotaque e bem vindo a minha Curitiba! 
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...