O celular vibrou, nova mensagem. Não era nenhuma fofoca nova, nenhuma declaração de amor, nenhum atestado de saudades... era uma perguntinha que me arrancou uma risada, como são os vizinhos finlandeses?
Fiquei pensativa, não queria uma resposta evasiva bacanas, normais, simpáticos. Queria uma dissertação sobre o comportamentos dos vizinhos no sul da Finlândia, em especial os da cidade de Kerava. Já me via dando entrevistas na rádio e convidando os conhecidos para o lançamento do livro. Poderia. inclusive, traçar um paralelo com os vizinhos curitibanos. Humilde, já sorria com o sucesso que me aguardava.
Limpei os óculos, peguei minha caderneta, preparei um chá adoçado com mel e iniciei a minha resposta. Lembrei dos meus vizinhos: a vizinha de baixo que tem um cachorro branco e que eu não sei o nome. Os vizinhos russos do lado direito, dois meninos que sempre passeiam com o cachorro, um bulldog francês preto, e que eu também não sei o nome mas sei a nacionalidade por causa do "bem vindos" da porta. O vizinho do lado esquerdo que já veio aqui em casa avisar, com muita simpatia, que ou a festa acabava naquele instante ou ele chamaria a polícia. O vizinho do andar de cima que toca guitarra e canta, mas que não sei que aparência tem. A vizinha que tem dois filhos pequenos e que me agradeceu quando segurei a porta para que ela passasse com o carrinho do bebê. E o vizinho que se assustou quando abriu a porta do elevador no exato momento em que eu subia as escadas correndo no escuro.
Termino o chá, fecho o caderno. Um parágrafo que poderia se transformar em dois caso eu explicasse onde está Kerava e quantos habitantes tem. Desisto do meu bestseller, abro a mensagem e respondo são simpáticos, te dizem oi quando cruzam com você no corredor mas não te perguntam sobre o tempo.