Moro em um país de primeiro mundo. Todas as pessoas têm onde morar e o que comer, as crianças vão para a escola e os pais, para o trabalho. Sentia falta do trabalho voluntário, de estar no hospital ou organizando entregas de doações. Mas o que eu poderia fazer aqui? Olhando o mundo com os óculos da Pollyana descubro que ninguém precisa de voluntários na Finlândia.
E é exatamente nesse momento que um grupo enorme de pessoas viram notícia: elas arriscam suas vidas para tentar chegar na Europa. Algumas noites de muito ponderar decido que quero ir, já, para a Grécia. Eu não apenas queria, eu precisava. Eu precisava sentir novamente que minha vida fazia sentido, que eu estava aqui não apenas para discutir política e criar inimizades com os mais acalorados, mas para arrancar sorrisos. E foi assim que eu passei a fazer parte do time de voluntários da Cruz Vermelha.
Infelizmente para fazer voluntariado fora do país é preciso ter realizado alguns cursos, e eu não pude ir. Mas ao por os pés pela primeira vez na sala de reuniões da SPR (Suomen Punainen Risti - Cruz Vermelha da Finlândia), vi um grande número de janelas se abrindo. O país precisa sim de voluntários! Precisa de pessoas doando sangue - eu não sou doadora, tenho pânico de agulha - pessoas visitando asilos, visitando pessoas que moram sozinhas, sabia que o número de depressivos aqui é bem alto? E agora, precisa de pessoas que queiram receber e ajudar na adaptação dos refugiados. E é esse programa que roubou meu coração.
Minha cidade disse que receberia cinco famílias e todas com algo em comum: famílias compostas por mães solteiras e seus filhos. Essas mães são afegãs e fugiram para o Irã, viveram por muito tempo (meses? anos?) em acampamentos para refugiados. Foram escolhidas para recomeçar a vida aqui porque são as mais vulneráveis. Desde fevereiro tenho reuniões e palestras, o que estamos fazendo é algo completamente novo aqui e estamos todos muito ansiosos e apreensivos. Uma das palestras foi sobre a cultura afegã, sobre a guerra, sobre o Talibã. Eu que tenho o coração de papel, precisei me controlar para não deixar as lágrimas escorrerem só de imaginar o que minha família teria vivido.
Sim, minha família! São tantos meses de preparação que já os vejo como parte de minha vida. Nós, os voluntários, nos dividimos em cinco grupos. Cada grupo é responsável por uma família, a minha é a mãe e três filhas. Elas chegam dia 2 de maio! Enquanto isso estamos arrumando a casa onde irão viver (a prefeitura disponibilizou cinco casas)! Procurando doações de camas, sofás, mesas e cadeiras, toalhas, roupas de cama, pratos, copos, tapetes... A casa logo estará pronta para recebê-las e eu mal posso esperar para ver a carinha delas ao descobrirem que agora tem um canto para chamar de lar!
Eu quero aprender a falar algumas palavras em persa. Quero dizer bem vindas, quero me apresentar, quero que se sintam acolhidas! Minha amiga afegã irá me ensinar, mas é tão complicado lembrar de todos esse sons que tenho medo de querer falar um coisa e acabar falando outra...
Ah, uma tarde por semana eu vou ajudar as crianças com o finlandês! Vou passar a tarde com elas brincando, lendo histórias e aprendendo! Vai ser ótimo para o meu aprendizado e, espero, vamos nos divertir muito juntos!