Etiquetas Image Map

terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Minha vida na Finlândia: Educação finlandesa, história do sucesso

Quando lemos algo de positivo que ocorre em outro país, geralmente Europeu, os comentários da reportagem são os mesmos já no Brasil... Lá dá certo por causa de X e Y sem levarmos em consideração a história daquele lugar, muitas vezes por desconhecimento. Nos últimos anos o pequeno país do norte da Europa tem ganho uma espaço de destaque na mídia quando o assunto é educação e despertado o interesse de muitos, inclusive do nosso governo que está enviando professores da rede federal para vir estudar aqui e conhecer como funciona o sistema educacional finlandês com o intuito de melhorar a educação brasileira. Mas será que isso é possível?
Como poucos sabem a Finlândia nem sempre foi um país rico e educado, na verdade essa é uma realidade bastante recente, até alguns anos atrás a realidade educacional do país era parecida com a que temos no Brasil hoje! Antes do sucesso acontecer ela fez parte do reino da Suécia até 1808 e da Rússia (1808-1917), e passou por uma guerra civil (1917) para conquistar sua independência.  
Durante a dominação sueca a língua finlandesa e a língua sueca eram divisores de classes. Em 1640 é criada a primeira universidade finlandesa na cidade de Turku, a língua acadêmica era o sueco. A língua finlandesa conseguiu sobreviver à imposição sueca graças à Igreja Luterana, que se tornou a religião oficial do reino em 1523, que julgava importante a aproximação do fiel aos textos sagrados, o que tornou importante a criação da gramática finlandesa e a tradução da bíblia à língua (Novo Testamento,1548). Nessa época foram criadas escolas luteranas para alfabetizar o povo, incluindo mulheres, e ajudou para reduzir drasticamente os números de analfabetos no país.
Em 1808 Suécia e Rússia entram em guerra pelo território finlandês, a chamada Guerra da Finlândia que acabou em 1809 com a Rússia vencedora. É durante essa época que a Finlândia começa a se desenvolver como país. Em 1812 Helsinki se transforma na capital, em 1826 a Universidade de Turku é transferida para a lá (em 1640 quando foi criada, os professores eram majoritariamente suecos, em 1808 eram apenas 8 suecos contra 27 finlandeses!) e em 1835, Kalevala, o livro nacional, é publicado. Em 1818 ocorre a Revolução Russa e os finlandeses a aproveitam para conseguir sua tão almejada independência. Mal sabiam eles que a Rússia não desistiria assim tão fácil desse pequeno país nórdico e a segunda guerra mundial foi um período de luta para seguir independente.
Após a Segunda Guerra o acesso à educação era desigual, apenas aqueles que viviam em grandes cidades tinha acesso à educação básica, em 1950 apenas 27% das crianças de 11 anos estavam frequentando a escola e dois terços dessas escolas eram privadas! O país passava também por um período de transição econômica e sabia que para conseguir reconhecimento dentro do mercado econômico e diante de outros países precisariam de uma população melhor educada. Nas duas eleições (1944 e 1948) o partido comunista era majoritário no parlamento finlandês e viam na educação uma das principais estratégias para transformar o país em uma nação socialista, sendo assim, algumas reformas foram feitas entre elas educação gratuita e igualitária para todos, independente de sua situação econômica.
Ainda assim, nos anos 60, a Finlândia ainda contava com poucas escolas e apenas 7% da população possuía algum tipo de formação superior. Preocupados, reformaram novamente o currículo escolar, no ano de 1970, o que desencadeou em três aspectos do atual sucesso educação finlandesa:
1. Alunos vindos de diferentes realidades sociais e também portadores de necessidades especiais, estudando e aprendendo juntos, ou seja, proporcionar oportunidades iguais a todos os indivíduos;
2. Orientação profissional e aconselhamento passa a fazer parte do ambiente escolar;
3. Professores trabalhando em uma única escola, aplicando diferentes métodos e criando maneiras de ensino para diferentes alunos. A profissão passa a ser vista com prestígio.
A partir desse momento o papel da educação pública tem como objetivo principal educar cidadãos críticos e que consigam pensar por si mesmos. Segundo Pasi Sahlberg (2011), a chave de seu sucesso foi não ter se infectado pelas políticas de competição no mercado laboral e resolução de provas/testes.
40 anos depois a Finlândia é um dos países mais bem educados do mundo, no qual 85% da população entre 25-64 anos possui ensino médio completo, surpreendendo a todos pela rapidez com a qual passou de um país pobre e analfabeto para uma potência educacional.


Se quiser saber mais sobre a história da Finlândia e o desenvolvimento da educação nesse país eu sugiro esses dois livros (que foi o que usei para escrever o texto!):
-Finnish Lessons, escrito por Pasi Sahlberg e lançado pela editora da Columbia University e faz parte da coleção School Reform
-Gracias, Finlandia, escrito por Xavier Melgarejo e lançado pela editora Plataforma
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...