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sábado, 20 de fevereiro de 2016

Racismo e mimimi

Geração mimimi. Geração sem graça, sem piada e sem parâmetros. Gosta de reclamar e achar problema em tudo. Aprendeu a problematizar e agora não quer mais parar. Tudo que um dia já foi visto como divertido hoje é chamado de ofensivo. 
Aposto que você já ouviu alguém falando isso. Acertei?

Nas últimas duas semanas um típico mimimi invadiu minha timeline e um grupo de Facebook que participo. O mimimi do racismo. Começou com o novo clip da Beyoncé, Formation, seguido de sua performance no Super Bowl, duas apresentações que deixaram os estadounidenses conservadores de cabelo em pé! E chegou ao Brasil em forma de comentário carnavalesco feito pela Val Marchiori à cantora Ludmilla e com a Grazi Massafera sendo eleita a mulata do carnaval. Bem, esses quatro episódios são os que pularam frente aos meus olhos.
Logo em seguida, o mundo se dividiu em dois. De um lado, defensores da luta dos movimentos negros, de outro, os adoradores do discurso racismo está nos olhos de quem vê. Mas será mesmo que o racismo é apenas uma questão de ponto de vista? Será que os negros se colocam no papel de vítima por puro prazer?


Começarei pela Grazi Massafera sendo eleita a mulata do carnaval, mas deixarei de lado a origem do termo mulata e atentarei apenas para o seu significado atual: pessoa de pele escura. Não falarei também sobre o teor machista desses concursos. A atriz é filha de pais brancos, é branca e tem os olhos claros; quando vai à praia se bronzeia, mas isso não a torna negra. Ainda assim, dentre todas as mulheres negras do nosso país, ela foi a escolhida como a mais bonita. Uma mulher branca é eleita a mulata mais bonita. Será mesmo que não havia nenhuma mulata bonita? Ou mulheres negras não são bonitas?
Uma das criticas que Beyoncé faz em sua nova música é com relação ao seu cabelo. Em um determinado trecho ela diz eu gosto do cabelo da minha bebê, respondendo a uma petição criada em 2014 pedindo que ela penteasse o cabelo de sua filha. Tanto o clip quanto a apresentação no SuperBowl têm apenas dançarinos e figurantes negros, todos com seus cabelos naturais. Val Marchiori disse que o cabelo da Ludmilla parecia bombril. E tudo isso me lembrou uma passagem do livro Americanah, livro que aborda de uma maneira dura a realidade racial nos Estados Unidos, em que a personagem principal é aconselhada a alisar o cabelo para uma entrevista de emprego para que suas chances de ser contratada aumentem.
Já que falo de beleza, gostaria que você pensasse em quantos tons de base há para vender nas lojas de cosmético? A primeira vez que eu vi uma base para tom de pele negra foi em 2012, na casa de uma intercambista francesa - ela havia comprado a base via internet. Foi quando eu percebi que aqueles três tons não servem para todas as peles. Quando você lê uma revista feminina, quantas mulheres negras encontra nela? E na seção de dicas de maquiagem, quantas dicas são direcionadas para quem tem o tom de pele escuro? Quando eles falam de penteados arrasadores para casamentos, quantos penteados são feito com cabelos cacheados ou afros?
Confesso que eu não sei o que é sofrer racismo, mas aprendi a ouvir. Aprendi a ter o olhar mais atento e perceber que esse preconceito está tão enraizado na nossa cultura que muitas vezes repetimos padrões que deveriam ser extintos. Então, a próxima vez que alguém te falar isso é racismo, não responda então ignore que o racismo passa, porque ele não passa. Pergunte por que e escute, aprenda a olhar para além de sua bolha e, porque não, comece a fazer parte do grupo do mimimi. Enquanto falarem racismo está nos olhos de quem vê, é tudo vitimismo, o mimimi seguirá vivo, e incomodando.

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