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terça-feira, 21 de julho de 2015

Amor de mar

Ana era uma menina da cidade grande. Preferia elevadores e escadas rolantes à movimentar as pernas degrau por degrau, sua geladeira estava sempre abastecida com comidas congeladas já que sua vida movimentada não a permitia cozinhar, não sabia dizer se a cenoura nascia de uma árvore ou se era uma raíz mas poderia passar horas discorrendo sobre o último lançamento da Apple. Hoje ela ri sempre que lembra da primeira vez em que viu uma árvore de mexiricas... depois de anos comprando a frutinha descascada no supermercado ela mal pode disfarçar a surpresa ao descobrir que os gominhos se encaixavam de uma maneira perfeita e estavam envoltos de uma casca!
Ana não é mais uma menina da cidade grande. Ela descobriu o amor e hoje se sente uma nova pessoa, diz que o amor renova, que o amor transforma ainda mais um amor tão antigo e sábio como o dela. Ana se apaixonou pelo mar.
Sua vida passou de tardes namorando vitrines para horas sentadas na areia ouvindo o barulho das ondas. Ela abria seus braços esperando que o mar a levasse, que se apresentasse e contasse quem era. Escreveu cartas e mais cartas de amor (dessas ridículas), as colocou em garrafas e as jogou ao mar. Como resposta o mar enviava as conchas mais belas e criava espetáculos com suas ondas. Uma noite de águas calmas Ana adormeceu enquanto as ondas acariciavam seus cabelos e sonhou com seu amado. Um homem forte e barbudo, na cabeça uma par de chifres em formato de garras de carangueijo e cauda de serpente chamado Okeanós.
Passaram horas conversando, ele lhe contou sobre a criação do mundo e sobre sua criação. Sua mãe Gaia e seu pai Urano tiveram diversos filhos, a cada um coube criar e cuidar de um fênomeno da natureza. Ele, por ser o mais sereno, foi quem abraçou o mundo, suas águas giram ao redor do mundo e abrigam uma maravilhosa flora e fauna. Suas águas são responsáveis por manter possível a vida na planeta, condicionam o clima e distribuem comida e minerais para os humanos.  Ele a levou conhecer sua casa, a nadar junto com tantos animais diferentes, tantas plantas, tantas cores...
Dormir na beira do mar virou rotina para Ana, sempre na esperaça de reencontrar Okeanó. Isso ainda não aconteceu, mas as conchas continuam chegando como um sinal de que ele não a esqueceu. Todos os dias Ana vê pesquisadores indo estudar o oceano, mergulhando até o seu ponto mais profundo com a intenção de desvendar todos os seus mistérios e ela se pergunta se um dia Okeanó também irá contar tudo para eles.



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