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terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Mochila nas costas rumo a Auschwitz

Por aqui o dia tem ficado cada vez mais curto e já não me surpreendo mais quando vejo que ainda são 16h e não 22h como a escuridão nos faz acreditar. E é, também, por causa dessa escuridão que a Finlândia aparece na lista dos países com maior índice de suicídio do mundo (a Finlândia adora protagonizar listas!). 
Aproveitarei esse clima pesado para contar mais um dos destinos que tive a oportunidade de conhecer, um lugar de cenário deslumbrante mas com uma energia carregadíssima: o campo de concentração de Auschwitz.
Quem não lembra a história é obrigado a vive-la novamente.
Visitar o campo sempre foi um sonho, meio mórbido eu sei, sonho causado pelo Príncipe Harry! Quando eu era adolescente lia a revista Capricho (não aprendi muito as lições de moda e maquiagem, mas juro que lia!) e lembro de ter visto uma foto do príncipe fantasiado com um uniforme nazista, príncipe Charles não gostou da escolha do filho e queria levá-lo ao campo para que ele visse de perto o que os nazistas fizeram. Eu quis ir também. Acho incrível poder ver tudo que estudamos nas aulas de história. 
A nossa escolha de destinos foi completamente aleatória, fomos olhando o mapa e escolhendo as cidades em que pararíamos. Acontece que fizemos um itinerário que nos preparou para o que viveríamos no campo. 
Dormimos em Cracóvia e contratamos uma excursão que nos buscou na porta do Hostel. Durante todo o trajeto assistimos a um documentário que continha cenas reais de quando os soldados soviéticos chegaram ao campo. É horrível, chorei na van e já estava me arrependendo de ter ido realizar esse sonho torto.

O trabalho liberta
A entrada do campo é o local mais famoso, qualquer um que vê a foto acima sabe que lugar é. A guia nos contou que a frase está escrita errada (quem fala alemão vai achar o erro!) e que não sabem se foi porque os prisioneiros não eram falantes do alemão, erro por pura ignorância, ou se foi proposital, afinal, que trabalho era esse que libertava? 

Malas dos prisioneiros
O campo está repleto de placas que explicam o que aconteceu ali, mas optamos por fazer o passeio guiado e fotografar todas as placas para ler depois (e é a fonte do que contarei aqui!).
Auschwitz está composto por três campos, dois são museus: Auschwitz e Birkenau. Auschwitz foi construído pelos poloneses para servir de alojamento para soldados, em 1939 a Alemanha invade a Polônia e em abril de 1940 decide reinaugurar o local com um novo objetivo: ser a nova casa de milhares de judeus. Sim, casa. As pessoas arrumavam sua mala com seus bens mais preciosos e entravam em um trem juntos de sua família porque acreditavam que seriam apenas realojados para uma comunidade exclusiva para judeus, como já havia acontecido em outras épocas. Mas o que aconteceu foi um pouco diferente, entre os anos de 1940 e 1945 foram deportadas 1.300.000 pessoas à Auschwitz (1.100.000 judeus, 140.000 poles, 23.000 ciganos, 15.000 prisioneiros soviéticos, 25.000 prisioneiros de outros grupos étnicos), dessas um milhão e cem mil morreram, 90% eram judeus e a maioria foi assassinada nas câmaras de gás. Como se sabe de tudo isso? Os alemães foram extremamente organizados e anotaram tudo! Os cadernos estão expostos e contem o nome do prisioneiro, a idade, a nacionalidade e onde está "vivendo". Tem também a data da morte.
A foto ao lado foi tirada dentro de um dos pavilhões, de um lado fotos dos prisioneiros e do outro das prisioneiras, uma homenagem a todos que passaram por lá. Antes de entrar em um outro pavilhão a guia nos contou que as mulheres tinham seus cabelos raspados logo que chegavam. Os cabelos eram enviados à Alemanha e alguns eram usados como apliques pelas alemãs e outros como matéria prima para meias calça. Sacos e sacos de cabelos foram encontrados logo que resgataram o campo e eles estão lá, para quem quiser ver. Tem cabelo preso em rabo de cabelo, feito trança, coque... Confesso que foi o momento mas forte que vivi durante o passeio, olhei para aquela montanha de cabelos e imaginei cada uma das donas, as lágrimas vieram e eu lutei para não chorar na frente da guia, mas vi que eu não era a única emocionada. Depois dos cabelos vimos sapatos e sapatinhos, roupas, óculos, aparelhos para barbear, louças, pentes... Vimos as camas, os banheiros, as câmaras de gás e descobrimos que as mães cantavam para seus filhos enquanto esperavam o banho e também quando já estavam lá dentro, porque mãe é mãe e enfrenta a morte com bravura se isso significa garantir que os últimos minutos de vida de suas crianças seja tranquilo e feliz.

Fornos
"Alojamentos"

Poderia passar horas contando à você o que vi e vivi durante as seis horas que passei nos campos. E poderia chorar tudo que já chorei lembrando e descobrindo o quanto o ser humano pode ser maligno. Poderia, mas não vou. Terminarei parafraseando o que nossa guia nos disse quando nos despedimos: A maior dor dos poloneses é saber que, após a guerra ter terminado, os nazistas nunca foram julgados por seus crimes, pois lutar contra o comunismo foi tido como prioridade.
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