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quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Correndo contra o tempo em busca da vida

Vocês já perceberam a rapidez com que nossos sentimentos chegam e vão embora? Num momento você ri muito e no outro já não consegue se lembrar qual foi o motivo de tanto riso. Hoje pela manhã meu novo amigo indonésio me perguntou quanto tempo fazia que eu estava vivendo aqui na Finlândia e, fazendo contas, percebi que hoje completo quatro meses por aqui. Ele também precisou fazer contas para me dizer que na próxima semana ele completa três meses. Quatro meses que parecem anos e em alguns momentos dias. A vida corre tão depressa que não tenho tempo para explorar todas as novas experiências por inteiro. 
Acredito que essa sensação não seja exclusiva minha e percebo que essa correria faz parte da nossa vida particular e também da pública. Domingo, Sergio Ardigó foi às ruas protestar contra a corrupção, hoje ele é preso acusado de corrupção. E mesmo tendo um intervalo de apenas duas semanas entre esses dois acontecimentos acredito que muitos não lembravam mais que houve uma manifestação ou que ela ocorreu a apenas 11 dias atrás. Quantas coisas aconteceram na vida de vocês nesses onze dias? 
Devo confessar que não consigo me lembrar bem de tudo que vivi na semana passada, não lembro se meu último pote de feijão foi descongelado nessa semana ou na passada - e desde que vivo longe comer feijão é um momento muito especial! Muitos dirão "é apenas um reflexo da vida moderna" e realmente deve ser, mas quando sento para escolher os assuntos que escreverei aqui e todas as memórias que me pareciam tão queridas e especiais me vêem vazias, sinto que não sou fã da vida moderna. Em muitos momentos leio algo na internet e penso "preciso escrever minha opinião sobre esse assunto" e quando tenho a opinião desenvolvida o assunto já está ultrapassado, ninguém mais fala sobre isso. Outras vezes vivencio algo que me deixou muito feliz (ou triste) e quando sento para compartilhá-lo sinto que já aconteceram tantas outras coisas que não vale a pena discorrer sobre algo que fiz três dias atrás. 
A vida é instantânea, tudo chega e se vai mais depressa que o cozimento do miojo. Fiz um instagram a pedidos, postei foto antiga e levei bronca pois o próprio nome do aplicativo já diz insta. Nele você deve colocar fotos do momento, no momento. Será essa uma maneira de eternizar um momento que segundos depois você sentirá como ocorrido em outra vida? Será que as pessoas que estão sempre atualizando seu aplicativo percebem a rapidez com que a vida escorre de nossas mãos?
Em quatro meses vivendo por aqui eu tenho aprendido que a vida deve ser mais tranquila. Pensei que enlouqueceria vivendo em uma cidade sem trânsito, barulho de carros, ônibus e pessoas e a verdade é que estou amando estar em um local com 35.362 habitantes, um local onde andando ou de bicicleta chego em todos os locais, em que levo cinco minutos pedalando para chegar à escola e se tiver sorte vejo alguns esquilos no caminho! Espero aprender a aproveitar melhor as experiências, a desacelerar e a fugir cada vez mais da vida moderna. Espero que logo eu consiga lembrar quando foi a última vez que comi uma boa feijoada e que quando sente para escrever para vocês sinta as memórias tão vivas como as senti no momento em que ocorreram.
E vocês, também sentem vontade de desacelerar? 

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