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terça-feira, 16 de junho de 2015

Con te partirò su navi per mari


Quem, após assistir Titanic, não ficou com vontade de fazer uma grande viagem de navio (para algum lugar que não tenha icebergs de preferência) e aproveitar para tirar uma bela foto da polpa igual a Rose & Jack que atire a primeira pedra. Durante muito tempo fazer um cruzeiro era privilégio de poucos e sonho de muitos, hoje é uma viagem muito mais acessível e, acreditem, muitas vezes mais barata que o avião. Mas será que vale mesmo a pena? Bem, vou contar um pouco sobre minha experiência para vocês!

Eu sou uma pessoa que ama viajar. Um dos sonhos da minha vida é conhecer o mundo. De Ushuaia ao Japão, passando pela Islândia e pela Tazmânia. Tenho uma paixão secreta por todos esses países terminados em ão: Irão, Turquemenistão, Paquistão, Uzbequistão, Butão, Quirguistão, Azerbaijão... Adoraria passar um mês com os monges no Tibet ou no Nepal ou na Índia.  E o que dizer dos encantos naturais da América Latina?
Mas não nasci filha do Silvio Santos e para poder realizar estes sonhos tenho colocado moedinha trás moedinha no meu porquinho, cada dinheiro extra que aparece já é um destino a colorir no mapa. E é assim, de pouco em pouco que vejo meu sonho se tornando realidade.
Ano passado quando decidimos que sim, iríamos nos mudar para a Finlândia, comecei a pesquisar passagens e ver qual seria a melhor data e opção. Fala com um, fala com outro até que sugeriram "porque não viajam de navio?". Eu já comecei a imaginar a viagem, baseada nos relatos de meus avós podia até sentir o gosto da comida servida nesses navios, já me via deitava na beira da piscina tomando sol enquanto o Mikko nadava. Pesquisei sobre os transatlânticos, seus preços e seus destinos. E por um impulso gigantesco (eu tenho esse defeito as vezes) compramos as passagens! Viajaríamos de barco, desembarcaríamos na Itália e teríamos que atravessar a Europa para chegar em casa. Muitos nos olharam de cara torta "passar 20 dias em um barco? Que maneira mais oldfashion de se imigrar!". Eu, como sou a cara da rebeldia (segundo o teste que fiz outro dia no FB), estava mais que feliz da vida pela viagem que estava cada dia mais próxima!
Chegou o dia da grande viagem, na mochila roupas para o calor nordestino e também para o frio Finlandês. Em meio aos biquínis, vestidos e protetores solares havia luvas, cachecóis e jaquetas.
Os sentimentos eram um misto de medo do novo, tristeza provocada pela partida, ansiedade e também animação pela viagem que nos aguardava. Durante os vinte dias de viagem teríamos a oportunidade de visitar e revisitar 9 cidades localizadas entre Brasil, Espanha e Itália. Seriam 9 dias em terra e 11 navegando! Eu estava com minha bolsinha de remédios recheada de Dramin (tenho uma experiência traumática com catamarãs que contarei em outra oportunidade).
Depois de uma longa viagem de ônibus até Santos (com direito a encontro inusitado em Registro!) finalmente chegamos! Como tínhamos que esperar pelo menos até às 10h para embarcar (e ainda eram 7h...) fizemos nossa farofada na sala de espera e tomamos um ótimo café da manhã (dica: quando você diz que vai embora todos te mimam, minutos antes de eu sair de casa uma amiga apareceu com uma cesta de café da manhã deliciosa! Disse que sabia que a viagem até Santos era longa e ela não queria que passássemos fome! <3).
Nós, nossa cara de acabados e a Buca
Embarcamos e passamos o dia embasbacados. Tudo lindo, lindo, lindo! As escadas, os tapetes, os corrimãos, os elevadores, os espelhos, até os funcionários! Todos sorrindo e te desejando boas vindas (no momento de emoção você nem pensa que na verdade eles estão cumprindo regras e que eles devem sorrir para você o tempo todo. E é claro que eu conversei com vários funcionários sobre o trabalho deles e descobri que eles sorriem porque estão felizes, e gostam tanto do que fazem que eu quase fiquei no navio para trabalhar com eles! Nossa camareira Karina, por exemplo, é a pessoa mais fofa do universo! Como ela não tinha muito o que fazer no nosso quarto - não me sinto bem sabendo que deixei uma zona para outra pessoa limpar - ela fazia dobraduras com meu pijama e com a toalha de rosto e passava horas fofocando comigo no corredor!!). Exploramos todos os cantos do navio, descobrimos onde estava tudo e em pouco tempo sentia que sempre havia morado lá. 

A vida dentro de um navio é mansa. Você pode comer o quanto quiser por 20 horas (sugiro as pizzas! Para jantar há a opção de ir ao buffet ou ao restaurante à la carte, fomos uma vez no segundo e depois nunca mais, nada contra a comida mas ODIEI ser servida o tempo todo - há dois garçons te olhando o tempo todo, esperando para fazer algo por você), para beber tem suco no café da manhã e café, leite, chá e água durante 24 horas. Quando não está comento você pode gastar dinheiro nas lojas (há uma loja de bebidas e no jornal diário a propaganda da loja dizia "peça ajuda ao Jhonny, ele adorará te ajudar!", óbvio que eu fui na loja. Na primeira ida conversamos sobre o frio - ele é carioca - e sobre outras inutilidades da vida. Sabendo que ele era uma pessoa divertida voltamos na loja alguns dias depois só para perguntar Jhonny, você me ajuda?) ou no cassino. Pode fazer pose para alguma foto que algum funcionário asiático com uma câmera pendurada no pescoço te convencerá a fazer (eu não tirei nenhuma, já o Mikko a cada pouco tava lá sensualizando para a câmera só porque o fotógrafo era engraçado e ele ria com ele!). Pode beber uns drinks e ouvir música ao vivo. Pode ir tomar sol e nadar na piscina! E pode ainda fazer aulas de dança, de tai chi ou de italiano. Pode jogar mini golf, algum jogo de tabuleiro ou participar das brincadeiras propostas pela equipe de animação. Depois do jantar você pode ir ao teatro (no primeiro dia a apresentação foi sobre o Brasil e eu dancei no palco - junto com outros passageiros - nos outros dias tivemos muita dança, ópera e mímica!), à balada e à festa organizada pela equipe de animação. Você pode aproveitar para fazer amigos também!
Festa italiana
Vocês já devem estar imaginando como eu me sentia, né? No paraíso. Aquele navio foi tanto a nossa casa! Logo de manhã já distribuíamos bons dias aos nossos vizinhos (era em português, em espanhol, em inglês, em alemão, em italiano e em francês), sentávamos para conversar com alguém (havia umas francesas que achavam que eu as entendia, então conversavam comigo em francês e riam e tudo!), nadávamos, comíamos... Me esqueci dos problemas do mundo (não tinha acesso a internet!), dos meus problemas, a vida era ali e era agora. Confesso que até chorei na última apresentação do teatro, tão triste dar tchau a tudo que fez parte da minha vida por todos esses dias! 
Mas sou uma pessoa crítica, mesmo parecendo Pollyana, e achei que as paradas não cumpriram minha ânsia de conhecer o mundo. Em cada cidade tínhamos poucas horas, 6 horas, para desvendá-las. Nesse tempo eu tinha que conhecer os pontos turísticos, os não turísticos, comer comidas típicas (com tanta comida grátis no navio não comia nas paradas), andar de transporte público, visitar um mercado e ainda comprar um imã! Impossível. Exceto as cidades que eu já havia visitado antes (Búzios, Salvador e Fortaleza) as paradas me deixaram com gostinho de quero mais. Eu preciso de mais que seis horas para dizer que conheço algum lugar. Decidi que voltarei a fazer cruzeiros (quero um que dure três meses!) mas não para conhecer o mundo e sim para voltar a viver nesse mundo cor de rosa que tive o prazer de conhecer! Para conhecer o mundo terei que colocar minha mochila nas costas e esquecer que a vida pode ser tão tranquila assim.
Tentativa frustrada de ser Jack & Rose

Depois conto sobre cada parada e o que conseguimos conhecer de cada cidade!
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